segunda-feira, 30 de março de 2009

Estava cansada dos dias, por deveras incompletos, e entediada diante da maçante rotina que instalara-se em sua vida e ali permanecia há muito tempo. Houve um tempo em que questionou o mundo e sentiu-se completamente frustrada diante da sensação de não ter as coisas feitas do seu jeito. Mas percebeu que seria melhor melhor fazer as vontades do mundo, ergueu a cabeça e construiu sua vida independente, aguardando o momento em que encontraria um motivo para continuar vivendo, ao invés de apenas sobreviver (como a maioria).

Havia usado todas as roupas novas e as antigas novamente, mas tal momento não apareceu. Não havia filmes, músicas ou livros que lhe chamassem a atenção. Porém, o trabalho, as contas sobre a mesa e o relógio com seu "tic tac" infernal continuavam ali, sem desistir ou demonstrar fraqueza.

Observou o revólver no fundo da gaveta por longos minutos. Fechou-a com força, ignorando seus pensamentos. Saiu de casa. Entrou no carro, colocou o cinto de segurança e dirigiu pela cidade com tranquilidade, observando as pessoas que atravessavam a rua e que traziam na expressão o cansaço, o tédio, a miséria e o medo. Seus olhos abatidos pareciam mais com os olhos de um robô, que vive no modo automático.

Dirigiu por demorados minutos, admirando a paisagem ao longo da estrada. Acendeu um cigarro e respirou fundo após uma profunda tragada. Parou o carro. Caminhou, descalça e com os longos cabelos esvoaçando com o vento, em direção ao precipício. Parou a centímetros da beirada e observou o mar lá embaixo, um tanto agitado. Sentiu a brisa suave que parecia completar seu espírito vazio...

Respirou fundo e olhou para o crepúsculo mais belo que já havia visto em toda sua vida. Deixou escapar uma lágrima, fruto da emoção de tal imagem divina. secou a lágrima rapidamente e olhou mais uma vez para baixo.
Estava decidida.
Buscava paz, tranquilidade e a esperança que lhe faltara em vida.
Fechou os olhos.
Pulou .

sexta-feira, 27 de março de 2009

Que comece o caos...

Pois é para isso que eu vim!

Por que esses olhares assustados e essa expressão de nojo?
Isso é por que o mundo ao seu redor está uma droga?
Eu não me importo com o que você sente, com o modo como você me olha... Eu vim para causar repulsa!

Esses olhos amedrontados me dão vontade de rir...
Mesmo que eu leve um tapa na cara. Pode bater, vamos lá!

Eu não preciso da sua piedade ou da sua caridade. Eu não preciso de aprovação e nem mesmo de simpatia. Eu sou o curinga, não tenha medo. Apenas vim abrir os seus olhos...

Por que esse maldito espanto?
Tens um arrepio a percorrer sua espinha?
E medo do que não pode controlar?
Ora, se não controlas sua vida... quem o pode fazer?

Tudo que colhe é fruto do que plantou!
Se alguém aqui é errado, pecador e covarde... Ora, esse não sou eu!

Eu só digo a verdade!
Eu também não sou perfeito...
Mas eu posso me adaptar a qualquer lugar!
Eu posso viver no meio do caos, eu posso viver no meio da alegria... Eu posso quebrar todas as regras e depois inventar outras novas.

Pode me chamar de louco, insano e extravagante!
Escalafobético deveria ser meu segundo nome!
Chame as outras pessoas para observar o ser esquisofrênico que anda descalço pela cidade rindo de tudo e de todos... Eu não tenho medo! Nada mais me surpreende...

Não era você que estava tão acomodado com a vida?
Pois eu trouxe a novidade. Eu sou a novidade!
Então, por que ainda vejo medo nos seus olhos, querido?

Toque-me, eu não vou lhe morder!
Não tenha medo de mim.
Não tenha medo da vida.
Tenha medo apenas das coisas de que se arrepende!
O mundo não vai ficar esperando... A terra continua a rodar.
Então... apenas faça! Faça tudo que sempre quis!

Mande a maldita sociedade pro inferno e ria na cara do Diabo... Ou de Deus, se preferir!
Ria também quando o circo pegar fogo, porque chorar é para os fracos e não vai resolver nada...

Venha comigo... tenho muito a lhe mostrar.
Eu sou o curinga e vim trazer o caos!
O caos ao seu coração desiludido... à sua vida amargurada.

Então, que comece o caos!
Pois é para isso que eu vim!

The real Life?

- Tome essas pílulas... - disse o homem estranho e com o par de óculos mais rídiculo que já encontrei na vida.

- Ok... - eu suspirei receosa, pensando o que tais comprimidos coloridos fariam comigo e onde ajudariam na minha conturbada vida. - Pra que elas servem? - perguntei finalmente.

- Você precisa de um pouco de verdade, garota! - ele disse, voltando sua atenção para algumas folhas sobre a mesa.

Eu continuei encarando-o, esperando alguma resposta melhor.

- Tenho outros pacientes, sabia! Até mais senhorita! - ele disse, num tom de ordem mas com a expressão ainda tranquila. Eu respirei fundo novamente e me levantei, batendo a porta ao sair daquele lugar que inspirava a loucura.

Caminhei pelos corredores para fora dali, ainda observando a caixa de comprimidos e depois examinando a cartela de coisinhas coloridas. Resolvi pegar duas, logo de uma vez, e as coloquei na boca sem medo. Afinal, não teria nada a perder... Nada aconteceu e eu continuei caminhando pelas calçadas sujas da cidade, rumo a minha casa. Foi então que uma vontade súbita veio a tona e eu parei no meio do caminho. Respirei fundo e comecei a correr, em direção à casa...dele?! Quando percebi já estava tocando a campainha impacientemente pela terceira vez, até que ele finalmente abriu a porta. Então eu o encarei por um segundo e tomei ar:

- Eu amo você! E eu não suporto mais o fato de tentar enganar a mim mesma! Eu sei que você é um cretino, estúpido e... cretino! Então eu não tô te pedindo nada... Pode ficar aí parado me olhando com essa cara de tonto. Pra mim já chega, estou tirando você oficialmente da vida... e saiba que essa brincadeira de sentimentos só funcionou na sua cabeça, porque eu nunca me deixei realmente levar por essa bobagem toda... Mas eu sou humana e não
pude não amar você, fato do qual me arrependo muitíssimo. - as palavras foram saindo da minha boca rapidamente, sem que eu pudesse detê-las e eu só conseguia observar seus olhos bonitos e brilhantes na minha frente.

- Hey, você tá bem? - ele perguntou assustado quando eu precisei tomar mais ar, depois de falar tanto.

Mas eu ignorei a pergunta. - Quer saber? Eu quero que você se FODA! - então eu lhe dei as costas e caminhei de volta para a rua, tranquilamente, com pensamentos insanos me atordoando e eu me questionando por que tinha feito aquilo. - Nossa, que roupa ridícula, senhora! - eu gritei, quando uma mulher estranha passava do meu lado com aquelas roupas que pareciam compradas com cinco reais.

Eu corri novamente, desta vez até o parque mais próximo e me sentei na grama. Estava cansada depois de correr e então decidi tirar minha blusa, ficando apenas com meu sutiã preto. Deixei a blusa de lado e me deitei na grama, estando então perdida em meus pensamentos e ignorando os olhares furiosos e de desaprovação sobre mim. Eu fiquei largada por um tempo, até por fim adormecer...

Então eu acordei. Mas acordei na minha cama com lençol rosa. Olhei em volta estava de fato no meu quarto, com o despertador tocando uma música legal, programado por mim na noite anterior. Sim, eu estava acordada e estava de volta ao mundo real. Ao mundo hipócrita, onde eu deveria saber medir minhas palavras e teria que controlar minhas ações para que minha
mãe não me internasse. "Foi apenas um sonho, afinal!" - pensei, enquanto me levantava e me conformava com aquele mundo. Mas algo ainda me incomodava, então eu caminhei até o telefone e disquei aquele número que sabia decor. Após uns segundos ele atendeu, com a voz muitíssimo sonolenta e baixa. "Alô?" - ele disse e depois bocejou. Então eu respirei fundo e disse: Eu quero que você se foda! - então desliguei o telefone com um sorriso, como se tivesse tirado um peso enorme das costas e fui preparar meu café da manhã.